Em entrevista ao jornal O Globo, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que as reduções nos preços dos combustíveis promovidas pela estatal não chegaram ao consumidor final.
A declaração foi feita em 11 de maio de 2024, com base nos dados do Relatório de Desempenho Financeiro da empresa, que mostra quedas significativas desde o início do atual governo, em janeiro de 2023. No primeiro trimestre de 2024, o diesel caiu 26%, o querosene de aviação 36% e a gasolina 11%.
O gás de cozinha (GLP) também teve baixas sucessivas. Ainda assim, os preços nos postos permaneceram praticamente inalterados — inclusive nos com bandeira da própria Petrobras. Isso se deve ao fato de que a estatal atua até a etapa de venda para distribuidoras, sem controle sobre os valores finais ao consumidor.
A executiva destacou que essas distribuidoras deveriam repassar as reduções proporcionalmente aos postos, mas isso não vem ocorrendo. Ela expressou incômodo com o desalinhamento na cadeia de comercialização, alertando que a falta de repasse prejudica os esforços da Petrobras e impacta diretamente o consumidor.
No entanto, Chambriard reforçou que a empresa não tem amparo legal para obrigar o repasse. Como solução, sugeriu a criação de regras mais claras e mecanismos regulatórios que assegurem transparência e levem os benefícios das reduções até a população.
Projeto-piloto leva combustível direto a grandes empresas
Como resposta à falta de repasse, a Petrobras iniciou em abril de 2024 um projeto-piloto de venda direta para empresas de grande porte, com foco em setores como agronegócio, transporte e mineração. O projeto começou em São Paulo e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
A proposta, segundo nota institucional divulgada em 20 de abril, é reduzir distorções nos preços ao encurtar a cadeia logística e oferecer combustíveis diretamente aos grandes consumidores. Apesar de restrita a contratos específicos, a experiência pode abrir caminho para novos modelos de comercialização no futuro.
Ao mesmo tempo, a estatal reforçou seu compromisso com a transição energética. Em 10 de abril, aprovou um plano de expansão em fontes renováveis, que inclui a construção da primeira biorrefinaria 100% renovável da companhia, no Rio Grande do Sul, com entrega prevista para 2026.
O plano estratégico 2024–2028 também prevê investimentos em hidrogênio verde, biodiesel, etanol, energia eólica e reflorestamento, buscando manter uma participação de 31% na matriz energética brasileira até 2050, conforme apresentado à ANEEL.
As falas de Chambriard reacenderam o debate sobre a estrutura de preços no setor. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP), o atual modelo concentra margens nas etapas intermediárias, sem transparência entre a saída das refinarias e os valores nas bombas.
Em nota técnica de maio de 2024, o instituto defendeu que o Ministério de Minas e Energia e a ANP estudem mecanismos para fiscalizar e incentivar o repasse automático das reduções, a fim de garantir o papel social e econômico da Petrobras nesse processo.