A crise econômica global segue afetando duramente diversos setores, e o varejo alimentar está entre os mais impactados no momento. Recentemente, a rede espanhola Alcampo, pertencente ao grupo francês Auchan, anunciou uma significativa reestruturação que resultará no fechamento de 25 lojas e na demissão de cerca de 710 funcionários — aproximadamente 3% do total da força de trabalho na Espanha. A medida visa adaptar a empresa às novas tendências de consumo e mitigar os efeitos da instabilidade econômica que atinge o setor.
Esse movimento estratégico acontece em meio a uma ampla transformação no modelo de negócios da rede. A Alcampo busca ajustar sua operação através de uma estratégia multicanal, focando em lojas menores, ampliação da presença digital e modernização dos pontos físicos, com o objetivo de aumentar a eficiência e reduzir custos.
A decisão também ocorre pouco tempo depois da aquisição de 224 lojas da rede DIA, realizada em 2023, que não atingiram as expectativas devido, principalmente, a questões relacionadas ao tamanho e à localização dos estabelecimentos.
As regiões mais afetadas pelos fechamentos incluem importantes comunidades autônomas espanholas, como Madrid, Castilla y León, Aragón, Asturias, Galicia, Cantabria, La Rioja, Navarra e o País Basco. Além das demissões, a empresa pretende modernizar mais de 60 lojas e implementar uma nova plataforma logística, fortalecendo assim sua capacidade operacional e competitividade no mercado.
A crise do varejo alimentar atinge outros países
A situação enfrentada pela Alcampo não é um caso isolado. Nos Estados Unidos, a rede Daily Table surpreendeu ao anunciar o encerramento definitivo de todas as suas unidades. Fundada em 2015 com uma proposta social inovadora, a empresa buscava combater a fome e a obesidade, oferecendo alimentos saudáveis a preços acessíveis.
Entretanto, conforme declarado pela própria rede, o contexto econômico atual inviabilizou a captação de recursos financeiros suficientes para manter as operações.
Durante os anos em que esteve ativa, a Daily Table atendeu mais de três milhões de clientes, proporcionando economia e acesso a alimentos nutritivos para comunidades vulneráveis. Agora, com o fim das atividades, as lojas estão realizando liquidações com grandes descontos para esgotar o estoque restante.
O encerramento da Daily Table evidencia as dificuldades enfrentadas por negócios que aliam sustentabilidade social e viabilidade econômica, sobretudo em um cenário de crescente instabilidade global e aumento dos custos operacionais.
No Brasil, o setor supermercadista também sente os efeitos da crise econômica global e das transformações no comportamento do consumidor. Grandes redes como Pão de Açúcar, Carrefour, Extra, Assaí e Atacadão vêm buscando alternativas para manter a competitividade.
De acordo com informações da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o setor enfrenta desafios como inflação elevada, aumento no custo dos insumos e flutuações cambiais que acabam impactando diretamente os preços repassados ao consumidor final.
Em resposta a esse cenário, as redes brasileiras aceleraram a digitalização de seus serviços, investindo em aplicativos próprios, programas de fidelidade e expansão das vendas online. Exemplos disso são os investimentos de Carrefour e Pão de Açúcar no e-commerce e nos serviços de delivery, visando atender um consumidor que valoriza cada vez mais conveniência e agilidade nas compras.
Outro fenômeno em destaque no mercado nacional é o crescimento do atacarejo, com redes como Assaí e Atacadão ganhando força ao atender famílias e pequenos comerciantes que optam por compras em maior volume para obter economia e praticidade.
Embora os fechamentos de lojas e cortes de funcionários sejam, até o momento, menos expressivos no Brasil em comparação a outros países, especialistas alertam que a continuidade da instabilidade econômica, combinada à perda do poder de compra da população, pode forçar o setor a adotar medidas mais drásticas nos próximos anos, especialmente se a inflação não for controlada.