O murumuru, um fruto nativo da floresta amazônica, está prestes a ganhar uma nova aplicação que vai além da sua tradicional presença na indústria de cosméticos. Reconhecido principalmente por suas propriedades hidratantes, o murumuru é amplamente utilizado na produção de sabonetes, cremes e xampus.
No entanto, pesquisadores de uma universidade amazônica estão abrindo caminho para um uso inédito: a incorporação das cinzas da casca do fruto como aditivo na fabricação de concreto. Esta inovação representa não apenas uma evolução técnica na engenharia de materiais, mas também uma contribuição relevante para questões ambientais, ao promover um destino sustentável para resíduos agroindustriais frequentemente descartados sem aproveitamento.
A pesquisa propõe o uso das cinzas resultantes da queima controlada da casca do murumuru, que tradicionalmente são desperdiçadas ou queimadas a céu aberto. A partir desse resíduo, foi obtido um material finamente moído, conhecido como “filler”, utilizado para melhorar as propriedades físicas e mecânicas do concreto.
O processo de preparação do material envolveu a coleta das cascas em cooperativas de processamento do fruto, a pré-trituração, queima a 200ºC e a posterior peneiração, resultando em um pó com potencial para aplicação na construção civil. Diversos testes físicos e químicos foram realizados para avaliar as características do novo composto e o seu impacto no desempenho do concreto, revelando resultados surpreendentemente positivos.
O impacto ambiental do cimento e a proposta de solução amazônica
O cimento é o segundo material mais consumido no mundo, perdendo apenas para a água. Contudo, sua produção é responsável por cerca de 8% das emissões globais de dióxido de carbono (CO₂), configurando-se como uma das principais fontes de gases de efeito estufa. Esse cenário tem mobilizado estudiosos e especialistas ao redor do mundo na busca por alternativas que reduzam o impacto ambiental dessa indústria.
A iniciativa de utilizar as cinzas do murumuru surge como uma dessas soluções, ao propor um insumo sustentável que não apenas melhora o desempenho técnico do concreto, mas também colabora para a diminuição das emissões associadas à produção tradicional de cimento.
De acordo com os testes realizados, a adição de 6% das cinzas da casca do murumuru ao cimento resultou em um concreto mais leve e com diversas vantagens estruturais. Entre os principais benefícios observados estão o aumento da resistência à compressão e à tração, uma melhoria significativa no módulo de elasticidade e uma redução notável na absorção de água.
Esses efeitos são atribuídos ao chamado “efeito filler”, que consiste na melhora da compactação da matriz do concreto, resultando em um material mais denso e resistente. Além disso, essa tecnologia também se destaca pelo seu potencial ambiental, uma vez que promove a utilização de resíduos agroindustriais, minimizando o impacto negativo do descarte inadequado desses materiais.
A pesquisa destaca ainda que a Amazônia possui um vasto potencial para oferecer soluções inovadoras e sustentáveis ao setor da construção civil. O aproveitamento de recursos naturais regionais, como o murumuru, contribui para a valorização da biodiversidade e pode fomentar novas cadeias produtivas, gerando emprego e renda para comunidades locais. Além disso, essa prática estimula o conceito de economia circular, promovendo o reaproveitamento de resíduos que, de outra forma, seriam descartados sem qualquer retorno econômico ou ambiental.
Para os especialistas envolvidos, esse tipo de inovação representa um avanço significativo na construção de práticas mais responsáveis e ecológicas dentro do setor da engenharia civil. A substituição parcial do cimento por materiais alternativos e sustentáveis não apenas reduz as emissões de CO₂, mas também contribui para o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e resilientes.
Além disso, esse tipo de pesquisa reforça a importância da ciência na busca por soluções que conciliem desenvolvimento econômico e preservação ambiental, especialmente em regiões de grande riqueza natural, como a Amazônia.
O estudo sobre o uso das cinzas de murumuru como aditivo ao concreto evidencia como pequenas mudanças nos processos construtivos podem gerar impactos positivos significativos, tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade.
À medida que a demanda por construções mais sustentáveis cresce, iniciativas como essa se tornam cada vez mais relevantes, apontando para um futuro em que a engenharia civil pode se alinhar de maneira mais harmônica com os princípios da sustentabilidade e da preservação dos recursos naturais.
