Pedro Junio, vice-presidente da SAF do Cruzeiro e figura central no comando do futebol celeste, concedeu sua primeira entrevista exclusiva desde que passou a atuar na Toca da Raposa. No cargo há pouco mais de um ano, o dirigente revelou que o clube traçou metas ambiciosas: tornar-se financeiramente autossustentável num prazo de até oito anos. A entrevista foi concedida em meio a uma fase de reestruturação profunda e investimento pesado no futebol e na infraestrutura.
Assumindo papel estratégico na transição de gestão após a saída de Ronaldo Fenômeno, Pedro Junio se tornou o braço direito de seu pai, Pedro Lourenço, empresário que adquiriu a maior parte das ações da SAF. Desde abril do ano passado, a atual gestão promoveu mudanças drásticas no projeto esportivo do Cruzeiro, apostando em contratações e modernizações que elevaram a folha salarial para mais de R$ 20 milhões mensais e acumularam investimentos superiores a R$ 300 milhões.
A dívida da SAF, que já alcança a marca de R$ 1,3 bilhão, é uma das grandes preocupações, mas, segundo Pedro, está sendo enfrentada com um plano estruturado a longo prazo.
“A gente tem um planejamento para o Cruzeiro ser autossustentável em sete ou oito anos”, afirmou o dirigente, destacando o potencial da marca Cruzeiro e o esforço para aumentar as receitas com patrocínios e desempenho esportivo.
Apostas esportivas e planejamento de longo prazo
Estudos recentes da consultoria Galápagos indicam que o Cruzeiro levaria entre 15 e 21 anos para quitar sua dívida total, caso mantenha o ritmo atual de receitas. No entanto, Pedro Junio acredita que é possível reduzir esse prazo pela metade. Segundo ele, alcançar fases avançadas em torneios como Copa do Brasil e Libertadores é crucial para esse objetivo, além de firmar novos contratos de patrocínio que possam alavancar a arrecadação. “Classificar para a Libertadores no ano que vem é fundamental para gente conseguir aumentar essa receita e conseguir diminuir esse prazo”, destacou.
Apesar de o clube não ter conseguido a vaga na competição continental nas últimas duas tentativas — ficando com o vice-campeonato da Sul-Americana e na nona posição do Brasileirão —, a ambição se mantém. Para alcançar os objetivos traçados, a SAF terá que realizar novos aportes ao longo de 2024. Pedro evita mencionar valores, mas assegura que o cronograma financeiro elaborado antes da aquisição da SAF continua sendo seguido rigorosamente.
“Todos os anos a gente tem um acordo financeiro que a gente acha importante, que a gente acha interessante. No momento certo a gente aporta, mas tudo dentro do planejamento.”
O dirigente explica que a estratégia passa também por controle rigoroso dos gastos e planejamento de estrutura, pagamentos e investimentos futuros. Mesmo com o crescimento da dívida, Pedro argumenta que os valores gastos com contratações em 2024 estavam previamente previstos e representam uma mudança de perfil necessária para reposicionar o clube esportivamente.
“O Cruzeiro tinha um perfil muito aquém do que a gente planejou. Então, o aumento [nos gastos] foi significativo, importante, mas tudo dentro do orçamento programado pela nossa empresa familiar.”
Com um plano desenhado para os próximos dez anos, Pedro Junio deixa claro que a atual administração cruzeirense aposta na disciplina financeira aliada à ambição esportiva como pilares para a reconstrução do clube. A ideia de autossustentabilidade não se restringe apenas à recuperação econômica, mas também à construção de uma estrutura sólida, competitiva e moderna, capaz de devolver o Cruzeiro ao protagonismo dentro e fora de campo.