Nos últimos meses, apicultores nos Estados Unidos vêm relatando perdas alarmantes em suas colmeias, com até 60% das colônias manejadas desaparecendo apenas em 2025. A dimensão desse fenômeno já provocou prejuízos financeiros consideráveis, estimados em cerca de US$ 139 milhões. A crise afeta desde pequenos produtores até grandes operações comerciais de apicultura, gerando uma cadeia de impactos negativos que se estende para muito além do setor apícola.
As abelhas desempenham um papel essencial na polinização de diversas culturas agrícolas importantes, como amêndoas, maçãs e melões. A escassez de colmeias não apenas ameaça a produtividade agrícola, como também interfere diretamente na oferta de alimentos e pode elevar significativamente os preços de frutas, vegetais e do próprio mel. A dependência da agricultura moderna em relação aos serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas torna o desaparecimento desses polinizadores uma preocupação global. A redução das colmeias representa um risco concreto à segurança alimentar, dado que as abelhas são indispensáveis para a produção de muitos dos alimentos consumidos diariamente pela população.
Possíveis causas do desaparecimento das abelhas
Pesquisadores e especialistas se dedicam a investigar as causas desse desaparecimento em larga escala. Wayne Anderson, especialista da Universidade Cornell, está à frente de uma equipe que coleta amostras e analisa os diversos fatores envolvidos nessa crise. “Com base nos primeiros dados que estamos recebendo, tudo indica que esta será a maior perda de colônias de abelhas da história dos EUA”, afirmou Scott McArt, professor associado de entomologia e diretor do programa no Laboratório Dyce de Estudos sobre Abelhas da mesma universidade.
Entre as possíveis causas apontadas pelos pesquisadores, o uso de pesticidas e fungicidas na agricultura se destaca como uma das principais preocupações. Cientistas analisam amostras de colmeias utilizando métodos de espectrometria de massa, que permitem identificar até mesmo traços mínimos de substâncias químicas prejudiciais. Muitos apicultores temem que esses produtos comprometam a saúde das abelhas, já que mesmo pequenas quantidades de resíduos químicos presentes no pólen podem afetar negativamente a nutrição e a imunidade desses insetos.
Outra ameaça significativa são os parasitas, especialmente os ácaros Varroa, que frequentemente lideram a lista de perigos para as colmeias. Esses ácaros se alimentam da hemolinfa — o equivalente ao “sangue” das abelhas — e podem transmitir vírus capazes de enfraquecer ou até mesmo dizimar colônias inteiras. Quando a infestação de ácaros atinge níveis críticos, o colapso da colônia pode ocorrer de forma rápida e devastadora.
Além dos pesticidas e parasitas, a escassez de alimentação natural é mais um fator que contribui para o declínio das populações de abelhas. A expansão urbana e o crescimento de áreas destinadas à agricultura de monocultura vêm reduzindo drasticamente a diversidade de flores disponíveis para a alimentação desses polinizadores. A ausência de forragem de alta qualidade fragiliza ainda mais as abelhas, deixando-as mais suscetíveis ao estresse e a doenças.
Diante dessa situação, cientistas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos intensificaram a busca por respostas. Eles estão realizando testes em abelhas com o objetivo de detectar a presença de vírus, ácaros e possíveis novos patógenos. A expectativa é que esse esforço colaborativo proporcione uma compreensão mais clara sobre os fatores que estão prejudicando a saúde e a sobrevivência das abelhas.
Enquanto isso, apicultores e agricultores lidam com os efeitos diretos da crise. Pequenos negócios de apicultura, que não contam com o mesmo respaldo financeiro das grandes operações, estão especialmente vulneráveis, enfrentando grandes dificuldades para se recuperar das perdas significativas de colônias e da consequente redução na produção de mel.
Do mesmo modo, produtores agrícolas que dependem da locação de colmeias para a polinização de culturas como amêndoas, maçãs e melões já relatam dificuldades em encontrar abelhas suficientes para atender às suas necessidades, além de terem que lidar com preços mais altos pela locação dos serviços de polinização.
A crise do desaparecimento das abelhas lança um alerta não apenas para a preservação desses importantes polinizadores, mas também para a necessidade de repensar práticas agrícolas e ambientais que estão colocando em risco todo um ecossistema essencial para a produção de alimentos e para a manutenção da biodiversidade.