Quando o papa Bento XVI renunciou ao cargo máximo da Igreja Católica, uma situação rara aconteceu, passando a ser chamado de papa emérito. Um argentino foi eleito, adotando o nome de Francisco. Assim e durante quase 10 anos, existiram dois sumos pontífices, até a morte do emérito em dezembro de 2022. Porém, antigamente quatro pessoas chegaram a ter esse título na mesma época, ou quase isso.
A história conflituosa aconteceu cerca de 1000 anos atrás. Naquela época era comum que famílias ricas influenciassem a escolha do líder da Igreja. Foi assim que o jovem Teófilo de Túsculo foi eleito e assumiu o nome de Bento IX. Entre idas e vindas, governaram também Silvestre III, Gregório VI e Clemente II, além de Dâmaso II.
Caos gerado pelo polêmico Bento IX
A Igreja Católica chegou a ter ao mesmo tempo quatro pessoas vivas que ocuparam o cargo de papa. Isso aconteceu graças ao polêmico Bento IX, o único da história a ter sido papa em três períodos distintos. Nenhum outro chegou a ocupar o trono em duas épocas diferentes sequer.
Primeiro, assumiu o trono de São Pedro em 1032, ocupando o posto até 1044 quando foi forçado a sair devido ao estilo de vida que levava, nada de acordo com os costumes religiosos. Na época tinha menos de 20 anos, sendo o mais jovem de todos os tempos nesta função. Algumas fontes indicam que ele teria apenas 12 anos no início do papado.
Voltou em 1045 para o segundo pontificado, após tomar o poder do eleito papa Silvestre III. Sua família tinha dinheiro e com apoio militar tomou o trono novamente, mas não durou muito tempo e decidiu renunciar. Porém, Bento IX se arrependeu da decisão e tomou Roma novamente, dessa vez assumindo a vaga do papa Gregório VI, permanescendo até julho de 1046.
Na época, Silvestre III reafirmou sua reivindicação ao papado, enquanto a situação em Roma permanecia instável. Diante do caos, diversos clérigos e leigos influentes apelaram ao imperador do Sacro Império Romano, Henrique III, para que cruzasse os Alpes e restaurasse a ordem na Igreja.
Atendendo aos pedidos, Henrique III interveio e convocou o Concílio de Sutri, realizado em dezembro de 1046. Nesse concílio, os papas rivais Bento IX e Silvestre III foram declarados depostos. Gregório VI, embora respeitado, foi incentivado a renunciar ao cargo, pois o acordo que havia feito com Bento IX para assumir o papado envolveu pagamento. Gregório VI morreu em 1048.

Mais um nome entra na corrida pelo trono de São Pedro
Com a vacância do trono papal, foi escolhido como novo papa o alemão Clemente II. Bento IX, por sua vez, não compareceu ao concílio e recusou-se a aceitar sua deposição. Ou seja, embora depostos, neste momento a Igreja contava com três antigos papas e um com poder em vigor.
Após a morte de Clemente II em outubro de 1047, Bento IX aproveitou a oportunidade para retornar a Roma e, em novembro daquele ano, tomou o Palácio de Latrão, reassumindo o papado. No entanto, sua retomada foi breve, pois foi expulso pelas tropas alemãs em julho de 1048.
Para restabelecer a estabilidade, foi eleito papa Dâmaso II, também de origem alemã, que foi amplamente reconhecido como legítimo. Em 1049, Bento IX foi novamente convocado, dessa vez para responder a acusações de simonia, mas recusou-se a comparecer. Como consequência, foi excomungado, encerrando definitivamente sua conturbada trajetória papal.
Não se sabe ao certo o que aconteceu com Bento IX em seus últimos dias de vida, mas é provável que tenha morrido em 1056, aos 44 anos. Alguns historiadores dizem que se arrependeu do modo que comandou a Igreja Católica e teria se afastado de novos pecados.
O que aconteceu com Silvestre III?
Giovanni Romano foi eleito papa em janeiro de 1045 com o apoio da influente família Crescentiana. Ao assumir o papado, adotou o nome de Silvestre III. No entanto, sua eleição foi contestada pelo deposto Papa Bento IX, que chegou a excomungá-lo. Pouco tempo depois, em 10 de março do mesmo ano, Silvestre III foi expulso de Roma por Bento IX e seus seguidores.
Após sua deposição, retornou à sua antiga posição como bispo de Sabina, à qual jamais havia renunciado oficialmente. Protegido pela família Crescenti, continuou exercendo suas funções episcopais, mesmo sob a excomunhão.
No ano seguinte, por ordem do imperador Henrique III, Silvestre III foi citado a comparecer ao sínodo de Sutri, realizado em 20 de dezembro de 1046. Nesse concílio, foi condenado como invasor da Santa Sé e sentenciado ao confinamento no mosteiro de Grotta-Ferrata, além de ser privado de suas ordens. No mesmo sínodo, o Papa Gregório VI também foi deposto.
Apesar da condenação formal, a sentença de Silvestre III parece não ter sido aplicada de forma definitiva, já que ele continuou atuando como bispo de Sabina até pelo menos 1062. Giovanni ainda aparece como bispo de Sabina em documentos emitidos pelo Antipapa Bento X em agosto e novembro de 1058.
Mais tarde, passou a reconhecer a autoridade do Papa Nicolau II, com quem colaborou assinando diversas bulas papais entre abril de 1059 e janeiro de 1061. No pontificado do Papa Alexandre II, Giovanni continuou ativo, assinando novos documentos pontifícios em outubro de 1061, janeiro, abril e junho de 1062, evidenciando sua permanência na vida eclesiástica até sua morte.